Riscos - A Grande Ameaça é Não Gerenciá-los

Rubens | 2 de agosto de 2012

Em meio a esta competitividade exacerbada que caracteriza o mundo atual, quase que involuntariamente somos levados a viver comparando tudo. Comparamos umas coisas com as outras, comparamos uns recursos com os outros e o que é pior e não raro, comparamos umas pessoas com as outras.

Na medida em que estudo e amadureço, percebo que este tipo de tendência não é bom para absolutamente nada e, portanto, não é bom também para nortear o raciocínio dos administradores. A fim de que não caiamos neste tipo de “cilada” devemos nos manter atentos, e nos policiar diuturnamente para conservar ao máximo nosso discernimento bem calibrado e imparcial.

Somente a título didático, me permitam um raciocínio em cima de uma situação hipotética na qual uma pergunta fosse feita da seguinte forma: – Entre o cérebro e o fígado, qual o mais importante para o organismo? – A sedução muito forte ao se formular uma resposta rápida a esta pergunta, seria a de privilegiar o cérebro em detrimento do fígado, entretanto é sabido que de nada vale um excelente cérebro em um corpo com o fígado em franco processo de falência. O final desta história já é conhecido. Acabaremos por perder um excelente cérebro pelo mau desempenho do fígado.

Assim como não tem nenhum cabimento julgarmos, por exemplo, quais partes de nosso organismo são mais ou menos importantes, devemos nos manter livre desta tentação em querer comparar, hierarquizar, priorizar as diversas áreas de conhecimento que compõem o moderno gerenciamento de projetos.

O intuito deste artigo não é fazer uma apologia a gestão dos riscos, mas sim chamar a atenção de todos os que hoje gerenciam projetos, sejam eles de qual magnitude forem, a atentar para o fato de que o gerenciamento dos riscos é vital para que os resultados cheguem a contento. A gestão de riscos deve hoje ocupar a mesma atenção, dedicação e preocupação por parte dos administradores do que, por exemplo, a gestão do tempo, a gestão dos custos e a gestão da qualidade vêem ocupando desde os primórdios.

Como postula o Prof. Jay M. Siegelaub em seu artigo “Da tripla a sêxtupla restrição”, publicado na revita Mundo PM de Jun/Jul/2010, constatamos que somente o controle do tempo, dos custos e do escopo, com o gerenciamento da qualidade eventualmente sendo incluído como uma quarta restrição, não bastam. Somam-se a estas quatro restrições os benefícios e os riscos, sendo estes os elementos mais novos e portanto os menos familiares, podendo também ser considerados os mais controversos. O próprio Prof. Siegelaub diz: “Mesmo que estejamos dentro do prazo, conforme o orçamento (custos), atendendo ao escopo e às expectativas de qualidade, uma mudança nas circunstâncias pode indicar que não vale mais a pena continuar com o projeto”.

Para falarmos sobre o papel importantíssimo que a gestão de riscos desempenha na saúde e vitalidade dos projetos, precisamos, primeiramente, desvincular a palavra risco da idéia de ameaça que parece automaticamente suscitar em nossas mentes, quando a escutamos. Existem os riscos de oportunidade que, na medida em que tenhamos a habilidade de antevê-los, poderemos potencializá-los e, com isso, trazer muitos benefícios ao projeto. É bem verdade que a capacidade de identificar os riscos de ameaças e inteligentemente traçar estratégias para eliminá-los ou, ao menos, mitigá-los, também se constitui em boa obra desta ciência.

Assim, como a maioria das atividades intelectuais, a gestão de riscos se posiciona de forma predominantemente preventiva. Prova disto é que de suas seis grandes etapas, cinco delas acontecem durante o planejamento do projeto e apenas uma se dá em paralelo com sua execução.

É imediatamente após a inicialização do projeto, ou seja, na fase de planejamento do projeto que devemos fazer: o Planejamento dos Riscos, a Identificação dos Riscos, a Qualificação dos Riscos, a Quantificação dos Riscos e a Elaboração do Plano de Respostas aos Riscos; ao passo que apenas o Monitoramento e Controle dos Riscos acontecem com a execução do projeto em curso.

Para quem já experimentou os benefícios de incorporar a gestão de riscos em sua caixa de ferramentas para o gerenciamento de projetos, certamente pôde observar que além de possibilitar o maior controle sobre as incertezas que circundam o projeto, aumentando as chances de potencializar as oportunidades e diminuindo ou até neutralizando as chances de que as ameaças ocorram, ela leva também a uma revisão natural da declaração do escopo do projeto, a uma eventual melhoria no detalhamento das atividades do projeto, a uma maior integração dos recursos humanos, enfim, propicia uma série de sub-produtos muito saudáveis ao resultado do projeto e também à construção do “know-how” para projetos futuros.

É no contínuo e criterioso trabalho em cima das probabilidades de ocorrência versus o impacto que tais riscos possam imputar aos projetos, que reside o trabalho dos membros das equipes de projetos quando estão no gerenciamento desta área de conhecimento.

Espinha dorsal de instituições financeiras, principalmente aquelas que têm atividades relacionadas à área de seguros, hoje a gestão de risco está presente em praticamente todas as áreas, tais como: tecnologia da informação, nas diversas ramificações das indústrias, no mercado imobiliário, etc…

É tempo de nos lembrarmos da gestão dos riscos não somente em situações de crise do projeto. Atualmente, não há gerente de projetos que possa se dar ao luxo de evoluir em um projeto sem incluir em suas atribuições um bom gerenciamento dos riscos.